CONTEÚDO

A Moeda do Amanhã: Por Dentro do Fenômeno Drex

Escrito por: Giovanna Ghetti

O Drex é a moeda digital brasileira que será exclusivamente emitida pelo Banco Central, configurando um dos projetos mais importantes na agenda de inovação no sistema financeiro do país. Anunciado pela primeira vez em 2022 e anteriormente denominado Real Digital, as transações realizadas com o Drex irão implicar a utilização de uma plataforma digital, não sendo necessário o uso de papel. O nome dado a esse mecanismo é, na verdade, uma junção de letras que representam elementos da inovação financeira: D de digital, R de real, E de eletrônica e X para simbolizar modernidade e conexão.

 O objetivo do Drex não é substituir o dinheiro tradicional, mas sim, ser uma alternativa que facilite as transações, de forma segura, rápida e com um sistema completo de rastreabilidade. Assim, faz-se necessário ressaltar que o Drex não representará uma concorrência a mecanismos como o Pix, que já é popular no país. Ainda que existam semelhanças entre esses dois instrumentos, o Drex se baseia na tecnologia blockchain e funciona como uma moeda digital, que pode ser usada não apenas para pagamentos, mas também para a tokenização de ativos, automação de contratos inteligentes e novas formas de transação financeira. Enquanto o Pix melhora a eficiência dos pagamentos tradicionais, o Drex tem um impacto mais amplo, modernizando o sistema financeiro e ampliando as possibilidades de negociação e investimento. 

Baseado em tecnologia digital e descentralizada, o Drex permite que pessoas com acesso à internet, mesmo sem uma conta bancária formal, possam realizar transações por carteiras digitais, como pagamentos e transferências. Desse modo, uma das promessas dessa moeda é pulverizar uma maior inclusão financeira. Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, sinaliza: “Como uma moeda digital com o respaldo do Banco Central, ele tem o potencial de atrair indivíduos que hoje encontram dificuldades para acessar o sistema bancário, simplificando o processo de pagamento de forma segura e prática”. 

 Além disso, o uso do Drex poderá diminuir os custos operacionais das instituições financeiras em até 40%, de acordo com o estudo da Swiss Capital. Sem o Drex, as transações precisam passar por diversas etapas que levam a taxas adicionais, aumentando os custos tanto para os consumidores, quanto para as instituições. Contudo, o Drex e a tecnologia blockchain permitiriam que fases como a compensação de pagamentos e a verificação manual de transações fossem automatizadas ou eliminadas, tornando os processos mais ágeis e baratos. Os contratos inteligentes, por sua vez, podem automatizar operações que normalmente exigem intervenção humana, reduzindo a necessidade de burocracia e conferências manuais. Na prática, isso significaria que bancos gastariam menos para oferecer serviços, como transferências, empréstimos e investimentos. 

Nesse contexto, se essa economia for repassada aos consumidores, as tarifas bancárias podem diminuir e o acesso ao crédito e a outros serviços financeiros pode ser mais acessível. Alex Andrade, CEO da Swiss Capital, ressalta: “A economia gerada pelo Drex será um divisor de águas para o sistema financeiro. Os clientes terão acesso a serviços mais rápidos, eficientes e, o mais importante, mais baratos.”

 Com o Drex, o mercado de capitais também poderá ser modernizado, de modo a tornar as negociações mais seguras e aceleradas, haja vista que ações, debêntures e cotas de fundos, por exemplo, poderiam ser digitalizados por meio da tecnologia blockchain e dos contratos inteligentes, eliminando intermediários e reduzindo burocracias. Ademais, com o Drex, o acesso aos investimentos poderia ser ampliado para investidores de diferentes perfis e portes, já que a digitalização torna possível o fracionamento de ativos, algo que ainda não é viável devido ao valor mínimo para a compra de instrumentos financeiros. Isso significa que investidores de menor porte, que tradicionalmente não teriam acesso a esses ativos por conta de seus valores elevados, poderiam adquirir frações desses ativos com valores mais baixos, democratizando o acesso ao mercado de capitais. Para além disso, o fator da transparência oferecido pela blockchain permite que todas as transações sejam registradas de maneira clara e auditável, o que auxiliaria para aumentar a confiança dos investidores e garantir maior segurança.

 Apesar das vantagens que o Drex poderá trazer para o sistema financeiro brasileiro, há certas preocupações com esse novo instrumento. A Hyperledger Besu, rede de registro distribuído (DLT) escolhida pelo Banco Central para o Drex, é capaz de processar 700 transações por segundo. Todavia, ainda não se sabe quantos brasileiros irão aderir ao sistema. Considerando o tamanho da população, há o risco de que o mecanismo não seja suficiente para atender a todos. Este fator, aliado à necessidade de garantir a privacidade do usuário, configuram desafios centrais a serem superados para o lançamento efetivo da moeda digital, que está em fase de testes. A respeito disso, Marco Zanini, CEO da Dinamo, empresa especializada em segurança digital e criptografia, afirma: “O desafio de escalabilidade vai ser tão difícil quanto o de privacidade. Não temos ideia do volume real. Se você tokenizar recebíveis em Real Digital, vai trafegar nessa rede um volume gigantesco de transações, e quanto mais ativos diferentes você tokenizar na rede do Drex, maior será o volume.”

 É válido ressaltar também que, embora o Drex traga mais rastreabilidade e segurança para as transações digitais, seu impacto na redução das transações informais no Brasil pode ser limitado. Muitos negócios ainda operam à margem do sistema financeiro tradicional e a adoção do Drex não necessariamente trará esses agentes para a formalidade. Como essas transações frequentemente ocorrem por meios menos rastreáveis, é possível que a moeda digital não desempenhe um papel decisivo para regularizar esse tipo de operação. 

 Em suma, o Drex representa um avanço significativo na digitalização do sistema financeiro brasileiro, trazendo benefícios que vão desde a redução de custos e modernização das transações até a inclusão financeira. No entanto, apesar das vantagens promissoras, desafios técnicos ainda precisam ser superados para garantir a viabilidade do Drex em larga escala. A questão da escalabilidade e a capacidade de processamento levantam preocupações sobre sua eficiência frente a um alto volume de transações. Da mesma forma, o equilíbrio entre rastreabilidade e privacidade exige atenção para assegurar a confiança dos usuários no sistema. Além disso, há dúvidas sobre o alcance e a eficácia do Drex para a informalidade das transações no país, já que muitas ainda ocorrem por fora do sistema financeiro tradicional. Diante desse cenário, o sucesso do Drex dependerá não apenas da tecnologia empregada, mas também de sua aceitação pelo mercado e da capacidade do Banco Central em mitigar os desafios estruturais. Se bem implementado, o Drex poderá consolidar o Brasil como referência na adoção de moedas digitais de banco central, promovendo um sistema financeiro mais dinâmico, acessível e competitivo.

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