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A Fome no Mundo

Atualmente, a fome é uma das principais ameaças enfrentadas pela humanidade. De acordo com o relatório do PMA (Programa Mundial de Alimentos da ONU) de 2022, 828 milhões de pessoas são afetadas pela fome, e mais da metade sofre com algum nível de insegurança alimentar, seja ela leve (baixa qualidade dos alimentos consumidos), moderada (restrição do acesso a alimentos) ou grave (quando já há escassez de alimentos). Hoje, fatores como a pobreza, desigualdade econômica, crise alimentícia, a guerra entre a Rússia e Ucrânia, a inflação mundial e a mudança de prioridade do setor agropecuário são os principais contribuintes para a piora no quadro da fome no Brasil e no mundo.

Apesar de grandes avanços tecnológicos voltados para a agropecuária nas últimas décadas, a produção alimentícia segue muito refém de climas favoráveis, com fatores como La Niña da América do Sul e fortes secas na África sendo grandes exemplos de fenômenos que dificultam as plantações, além de geadas e excessos de chuvas pelo Globo. A região conhecida como “Chifre da África” vem sofrendo com uma seca histórica desde 2020, quando cerca de 13 milhões de pessoas já passavam fome. Em 2022, esse número quase dobrou, subindo para 22 milhões de pessoas com risco de fome desde o sul da Etiópia até o norte da Quênia e Somália. A expectativa é que o período de seca ainda dure alguns meses.

Problemas epidemiológicos, como pragas em plantações e doenças em animais, também afetam a oferta de alimentos no mercado. Em 2020, plantações na Argentina e sul do Brasil sofreram com uma onda de gafanhotos que consomem plantações, causando uma perda no plantio. Iniciada em 2022, a gripe aviária foi considerada motivo de alerta, em Janeiro de 2023, pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), por conta do aumento de detecção de surtos de gripe em aves em dez países da Região das Américas. Países com Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia estão sofrendo com o aumento do preço do ovo – fonte de proteína barata – por conta das mortes de galinhas causadas pelo surto da gripe. Nos Estados Unidos, a queda na produção das granjas elevou o preço médio de US$ 1,92 para US$ 4,25 entre os meses de janeiro e dezembro de 2022.

Um dos agravantes da crise alimentícia atual é a crise dos fertilizantes, que causou um aumento do preço de insumos de quase 200% entre maio de 2020 e junho de 2022, de acordo com o PMA. Esse aumento fez com que mais de 49 milhões de pessoas passassem a sofrer com a fome. Essa crise, iniciada no final de 2021, foi agravada pela guerra da Ucrânia, cujas sanções de exportação à Rússia, segundo produtor mundial de fertilizantes nitrogenados, quarto em
fosfatadas e segundo em potássios, impulsionaram os preços dos produtos. Outro grande impacto da guerra foi no mercado de grãos. Isso porque a Ucrânia é um dos grandes exportadores do produto, sendo responsável por cerca de 42% do óleo de girassol, 16% do milho, 10% da Cevada e 9% do trigo comercializado mundialmente, segundo dados do “Our World in data”, da ONU.

Já no Brasil, o cenário pode ser considerado um retrocesso. Em 2014, o Brasil conseguiu sair do chamado “Mapa da Fome”, que é um índice que coloca os países com insegurança alimentar grave acima de 2,5%. Entre 2018 e 2020, o país voltou para o mapa, e sofreu um grande aumento entre 2019 e 2021, com 4,15% o que, segundo relatório do PMA, se assemelha aos números do período dentre 2008 e 2010.

Apesar de produção recorde no agronegócio em 2021, a alta inflação mundial provocou um aumento da demanda, fazendo com que o foco de grandes produtores rurais se voltasse para a exportação de seus produtos, provocando um aumento no preço do alimento no cenário interno. Isso, associado a diminuição do poder aquisitivo provocado pela pandemia, agravou o quadro de fome no país. De acordo com a Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), cerca de 116,8 milhões de brasileiros, pouco mais da metade da população, passavam pela insegurança alimentar.

Atualmente, o cenário econômico continua repleto de incertezas. Há um otimismo considerando que o país está saindo de uma pandemia e as atividades estão retornando. Entretanto, outros fatores, como a alta inflação, indicam que essa recuperação é gradual e deve ser longa. Além da recuperação econômica, há uma preocupação com guerras civis causadas ou agravadas pela fome em alguns países, como Iêmen e Etiópia, e instabilidades que podem se transformar em conflitos armados em outros, como Guiné e Somália.

Logo, as perspectivas para o futuro do quadro da fome no Brasil e no mundo são pessimistas. De acordo com a ONU, contando com uma recuperação econômica global, em 2030, aproximadamente 670 milhões de pessoas irão sofrer com a fome. Esses números representam um fracasso para a Agenda 2030, que tem como um dos objetivos de desenvolvimentos sustentável a erradicação da fome mundial.

Por Luís Gustavo Andrade, Estagiário de Inteligência e Market Insights e Maria Helena de Macedo, Analista da CADARN Consultoria.